Hoje tô aqui para apresentar uma proposta diferente: os contos do livro Fantasmas do Século XX, escrito por Joe Hill.

Quem me conhece, ou ao menos se deu ao trabalho de ler o "sobre mim" ali do ladinho, já sabe que o cara é um dos meus escritores favoritos, e esse livro foi o primeiro contato que eu tive com ele. O li quando tinha uns 14/15 anos e, até hoje, alguns dos contos continuam na minha mente, então a minha ideia é postar alguns deles aqui para quem se interessar em conhecer o livro/o autor.

O de hoje chama-se Pop Art, que é, definitivamente, o MELHOR conto  no qual já parei meus olhos. Conheço a estória de cabo a rabo, já a li por inteira diversas vezes e me emocionei em todas.

"Mas Tisa, sobre o que é Pop Art?"
Então, é uma estória realmente encantadora sobre um menino-balão. Literalmente. Ele é feito de plástico e cheio de ar. Mas não se deixe levar por essa característica em particular, ela é só um complemento ao drama extremamente comovente que virá pela frente. É o tipo de conto que te faz refletir.

"Mas Tisa, isso é impossível!!!!"
É claro, nessa nossa realidade limitada realmente é impossível, mas a trama não foca muito nessa doença do menino. Ao meu ver, tal característica serve mais de metáfora, pois é uma estória extremamente dramática, tanto que se tu não estiver chorando ao final dela provavelmente é algum tipo de psicopata.

"Eu não gosto de terror :( Tenho medo :( Não vou ler :("
Pode ler sem problema algum, amiguinha(o). Juro que não tem fantasmas nem nada sobrenatural que vá te fazer ter pesadelos com monstros e acordar suando frio. Eu considero a estória como um terror psicológico, pois ela realmente mexeu profundamente comigo (ou seja, me deixou na bad), mas para ser bem sincera contigo: não me aterrorizou, então pode ser considerada só drama mesmo, se preferir.

Não é um conto curtinho, mas também não é longo demais, dá para você ler em alguns minutos.
Ah, também é legal saber que existe um curta inspirado nesse conto, e eu vou disponibilizar ele para ti bem no final desse post, ou seja: se estiver com preguiça de ler o conto, mas ainda assim quiser assistir o curta, é só deslizar a barra de rolagem até o final do post. Serão dois vídeos que, juntos, somam cerca de 16 minutos, o áudio é em inglês e as legendas em espanhol, mas não precisa se preocupar não pois dá para entender tudo direitinho.

Vamos lá então!



Pop Art

             Quando eu tinha 12 anos, meu melhor amigo era inflável. Seu nome era Arthur Roth, o que significa que, além de ser inflável, ele também era judeu, embora durante nossas eventuais conversas sobre vida após a morte eu não me lembre de ele ter defendido nenhum ponto de vista especificamente judaico. O que mais fazíamos era conversar — na situação dele, brincadeiras brutas estavam fora de cogitação —, e o tema da morte e do que poderia vir depois dela surgiu mais de uma vez. Acho que Arthur sabia que teria sorte se sobrevivesse ao ensino médio. Quando o conheci, ele já tinha quase sido morto uma dúzia de vezes, uma para cada ano que vivera. A vida após a morte não lhe saía da cabeça; assim como sua possível inexistência.
             Quando digo que conversávamos, estou querendo dizer que nós nos comunicá­vamos, discutíamos, arrasávamos um com o outro, incentivávamos um ao outro. Para ser exato, quem falava era eu — Art não podia falar. Ele não tinha boca. Quando tinha alguma coisa a dizer, escrevia. Usava um bloquinho em volta do pescoço preso a um pedaço de barbante e carregava lápis de cera no bolso. Fazia os trabalhos do colégio com lápis de cera, entregava as provas em lápis de cera. Vocês podem imagi­nar os perigos que um lápis de ponta fina poderia representar para um menino de 120 gramas feito de plástico e cheio de ar.
             Acho que um dos motivos de sermos melhores amigos era ele saber escutar tão bem. Eu precisava de alguém para me ouvir. Minha mãe tinha ido embora, e com meu pai eu não conseguia conversar. Ela fugiu de casa quando eu tinha três anos e mandou para o meu pai uma carta confusa da Flórida, falando de manchas de sol, raios gama, da radiação emitida pelos postes de energia e de como o sinal de nascença no dorso de sua mão direita havia subido pelo seu braço até o ombro. Depois disso, uns dois cartões-postais e mais nada.
             Meu pai tinha enxaqueca. Durante as tardes, ele ficava sentado em frente à TV na sala de estar escura assistindo a novelas, triste e com os olhos úmidos. Detestava que o incomodassem. Não era possível conversar sobre nada com ele. O simples fato de tentar era um erro.

— Blá, blá — dizia ele, me interrompendo no meio de uma frase. — Minha cabeça está estourando. Você está me matando com esse seu blablablá.

             Mas Art gostava de escutar e, em troca, eu lhe oferecia proteção. As outras crian­ças sentiam medo de mim. Minha reputação era má. Eu tinha um canivete, e algu­mas vezes o levava para o colégio e deixava os outros alunos verem; eles ficavam morrendo de medo. Mas a única coisa em que eu enfiava o canivete era a parede do meu quarto. Ficava deitado na cama e arremessava-o no quadro forrado de cortiça para vê-lo se enterrar de ponta ali, tuc.
             Um dia, quando Art estava na minha casa, viu as marcas na parede. Eu expliquei, uma coisa puxou outra e, antes de eu perceber, ele estava implorando para tentar.

— Qual é o seu problema? — perguntei a ele. — A sua cabeça é completamente oca? Pode esquecer. Nem pensar.

             E lá veio um lápis de cera alaranjado, cor de terra-de-siena.

ENTÃO PELO MENOS ME DEIXE OLHAR.

             Abri o canivete. Ele ficou olhando, com os olhos esbugalhados. Na verdade, ele olhava para tudo com os olhos esbugalhados. Seus olhos eram feitos de um plástico que imitava vidro, colados à superfície de seu rosto. Ele não conseguia piscar nem nada disso. Mas aquele olhar era diferente do seu olhar esbugalhado habitual. Eu podia ver que ele estava realmente fascinado.

             Ele escreveu:

VOU TOMAR CUIDADO PROMETO JURO POR FAVOR!

             Entreguei o canivete a ele. Art pressionou a ponta da lâmina no chão, fazendo-a entrar no cabo. Então apertou o botão e a lâmina tornou a aparecer. Ele estremeceu, com os olhos fixos no canivete em sua mão. Então, de uma hora para outra, arremes­sou-o contra a parede. É claro que não conseguiu enterrá-lo na cortiça; isso exige práti­ca, coisa que ele não tinha, e coordenação motora, coisa que, para ser sincero, ele nunca iria ter. O canivete bateu na parede e voltou voando para cima dele. Art saltou tão de­pressa que parecia que eu estava vendo o fantasma dele fugir de seu corpo. O canivete aterrissou no lugar onde ele estivera e saiu rolando para debaixo da minha cama.
             Puxei Art do teto do quarto com violência. Ele escreveu:

VOCÊ TINHA RAZÃO, FOI UMA BURRICE. EU SOU UM FRACASSADO — UM IMBECIL.

— É mesmo — concordei.

             Mas ele não era nem fracassado nem imbecil. Meu pai é um fracassado. Os alunos do colégio eram imbecis. Art era diferente. Ele era só coração. Simplesmente queria que alguém gostasse dele.
             Além disso, posso dizer com toda a certeza que ele era a pessoa mais inofensiva que eu jamais conheci na vida. Não apenas seria incapaz de fazer mal a uma mosca: ele não tinhacondições de fazer mal a uma mosca. Se desse um tapa em uma mosca e levantasse a mão, o inseto sairia voando como se nada tivesse acontecido. Ele pare­cia um santo de uma história bíblica, alguém capaz de curar partes do seu corpo dilaceradas e infectadas com uma simples imposição das mãos. Vocês sabem como são as histórias bíblicas. Esse tipo de pessoa nunca dura muito. Os fracassados e os imbecis enfiam pregos nela e ficam vendo o ar escapar.
             Havia algo de especial em Art, um traço especial e invisível que fazia as outras crianças naturalmente quererem sacaneá-lo. Ele era novo em nosso colégio. Os pais dele haviam acabado de se mudar para a cidade. Os dois eram normais, com o corpo cheio de sangue, não de ar. O problema de Art era uma daquelas doenças genéticas que brincam de amarelinha com as gerações, como o mal de Tay-Sachs (Art me disse certa vez que tinha um tio-avô, também inflável, que um dia flutuou para o meio de uma pilha de folhas e estourou nos dentes de um ancinho enterra­do). No primeiro dia de aula, a professora Gannon fez Art ficar em pé na frente da sala e contou tudo sobre ele para os alunos, enquanto ele mantinha a cabeça abaixa­da de tanta vergonha.
             Ele era branco. Não caucasiano, branco, branco feito um marshmallow ou o Gasparzinho. Uma costura descia de sua cabeça pelas laterais do corpo. Debaixo de um dos braços havia uma válvula de plástico por onde ele podia ser enchido de ar.
             A professora Gannon nos disse que devíamos tomar um cuidado especial para não correr com tesouras ou canetas na mão. Um furo provavelmente iria matá-lo. Ele não conseguia falar; todo mundo precisava entender isso. Ele se interessava por astronautas, fotografia e os romances de Bernard Malamud.
             Antes de encaminhá-lo de volta até seu lugar, ela deu um apertão de leve no ombro dele e, quando pressionou os dedos, ele soltou um fraco assobio. Era sua única forma de emitir sons. Flexionando o corpo, ele podia emitir pequenos ganidos e chiados. Quando as pessoas o apertavam, ele emitia um apito baixo, musical.
             Ele flutuou pela sala e ocupou um lugar vazio ao meu lado. Billy Spears, que esta­va sentado logo atrás dele, ficou jogando tachinhas na sua cabeça durante toda a manhã. Nas primeiras vezes, Art fingiu não perceber. Então, quando a professora Gannon não estava olhando, ele escreveu um bilhete para Billy. O bilhete dizia:

PARE COM ISSO. POR FAVOR! NÃO QUERO FALAR NADA PARA A PROFESSORA GANNON, MAS NÃO É SEGURO FICAR JOGANDO TACHINHAS EM MIM. NÃO ESTOU BRINCANDO.

             Billy escreveu de volta:

SE CRIAR ALGUM PROBLEMA, NÃO VAI SOBRAR NADA DE VOCÊ, NEM PARA REMENDAR UM PNEU. PENSE NISSO.

             Depois desse episódio, as coisas não ficaram nada fáceis para Art. Na aula de labo­ratório de biologia, Art fazia dupla com Cassius Delamitri, que estava repetindo a quinta série. Cassius era um menino gordo, com um rosto rechonchudo e emburra­do e uma desagradável penugem preta acima dos lábios contraídos e franzidos.
             O exercício era destilar madeira, o que envolvia o uso de um maçarico — Cassius realizou a experiência, enquanto Art ficava olhando e escrevia bilhetes de incentivo:

NÃO ACREDITO QUE VOCÊ TIROU NOTA BAIXA NESTA EXPERIÊNCIA NO ANO PASSADO — VOCÊ SABE MESMO COMO FAZER ISSO! OS MEUS PAIS ME DERAM UM JOGO DE LABORATÓRIO DE ANIVERSÁRIO.
VOCÊ PODERIA IR LÁ EM CASA UM DIA PARA A GENTE BRINCAR DE CIENTISTA LOUCO. VOCÊ QUER?

             Depois de três ou quatro bilhetes assim, Cassius perdeu a paciência e enfiou na cabeça que Art era alguma espécie de homossexual... especialmente com aquele papo de convidá-lo para brincar de médico ou algo do gênero. Quando o professor estava distraído ajudando outros alunos, Cassius empurrou Art para baixo e amar­rou-o em volta de uma das pernas da mesa, formando um nó cheio de chiados, cabeça, braços, corpo e tudo o mais. Quando o professor Milton perguntou aonde Art tinha ido, o gorducho disse que achava que ele tinha corrido para o banheiro.

— É mesmo? — perguntou o professor Milton. — Que alívio. Eu nem sabia que esse menino conseguia ir ao banheiro.

             Em outra ocasião, John Erikson segurou Art durante o recreio e escreveu saco de colistomia em sua barriga com caneta de tinta indelével. Só saiu na primavera.

O PIOR FOI QUE MINHA MÃE VIU. JÁ É RUIM O SUFICIENTE ELA SABER QUE EU APANHO TODO DIA NO COLÉGIO. MAS ELA FICOU CHATEADA MESMO PORQUE O INSULTO ESTAVA ESCRITO ERRADO.

             Ele acrescentou:

NÃO SEI O QUE ELA ESTÁ PENSANDO — ISTO AQUI É A QUINTA SÉRIE. SERÁ QUE ELA POR ACASO NÃO SE LEMBRA DE COMO ERA A QUINTA SÉRIE? DESCULPE, MAS, SENDO REALISTA, QUAIS SÃO AS CHANCES DE VOCÊ APANHAR DO GRANDE CAMPEÃO DE ORTOGRAFIA?

— Do jeito que o seu ano está indo — falei —, acho que as chances podem ser bem grandes.

Art e eu ficamos amigos da seguinte maneira:
             Durante o recreio, eu sempre ficava trepado sozinho no alto do brinquedo de escalar, lendo revistas esportivas. Estava cultivando minha reputação de delinqüente e possível traficante de drogas. Para ajudar a construir minha imagem, usava uma jaqueta jeans preta e não conversava nem fazia amizade com ninguém.
             No alto do brinquedo — uma construção em forma de arco montada em um dos cantos da área asfaltada atrás da escola —, eu ficava a uns três metros do chão e podia ver o pátio inteiro. Certo dia, vi Billy Spears chegar correndo com Cassius Delamitri e John Erikson. Billy segurava uma bola de beisebol e um taco, e os três estavam ten­tando arremessar a bola através de uma janela aberta no segundo andar. Depois de 15 minutos sem nem sequer chegar perto, John Erikson deu sorte e acertou.
Cassius disse:

— Merda... Lá se vai a bola. Agora a gente precisa de alguma outra coisa para arremessar.

— Ei — gritou Billy. — Olhem ali! É o Art!

             Art tentava manter distância, mas os meninos conseguiram alcançá-lo. Billy começou a arremessá-lo no ar e a bater nele com o taco para ver até onde conseguia lançá-lo. A cada tacada, Art produzia um barulho oco de ricochete: tóim! Ele saía voando, depois ficava flutuando um pouquinho, caindo devagar no chão. Assim que seus calcanhares tocavam o solo, ele começava a correr, mas a velocidade não era um dos seus fortes. John e Cassius se divertiam agarrando Art e batendo nele com o taco para ver quem conseguia arremessá-lo mais alto.
             Aos poucos, os três foram jogando Art até o canto do pátio onde eu estava. Ele se desvencilhou por tempo suficiente para correr até debaixo das barras de escalar. Billy o alcançou, deu-lhe uma tacada na bunda e o fez sair voando.

             Art flutuou até o topo do brinquedo. Quando seu corpo tocou as barras de aço, ele ficou preso, de barriga para cima — eletricidade estática.

— Ei! — berrou Billy. — Jogue ele aqui pra baixo!

             Até aquele momento, eu nunca tinha me visto cara a cara com Art. Embora tivéssemos aulas juntos, e até nos sentássemos um ao lado do outro na sala da pro­fessora Gannon, não havíamos trocado uma única palavra. Ele olhou para mim com aqueles imensos olhos de plástico e sua expressão triste e vazia, e eu retribuí o olhar. Ele pegou o bloquinho que trazia em volta do pescoço, escreveu um bilhete em verde-primavera, rasgou-o e segurou-o para eu ver.

ESTOU POUCO LIGANDO PARA O QUE ELES FIZEREM, MAS SERÁ QUE VOCÊ PODERIA IR EMBORA? DETESTO QUE BATAM EM MIM NA FRENTE DE UMA PLATÉIA.

— O que ele está escrevendo? — gritou Billy.

             Tirei os olhos do bilhete, olhei para Art e em seguida lá para baixo, onde os meninos estavam reunidos. De repente, percebi que podia sentir o cheiro deles, de todos os três, um cheiro úmido, humano, um fedor de suor azedo. Aquilo me revirou o estômago.

— Por que vocês estão chateando ele? — perguntei.

— A gente está só gozando da cara dele — respondeu Billy.

— Estamos só tentando ver até onde conseguimos arremessar ele — disse Cassius. — Você deveria descer aqui. Deveria tentar. A gente vai chutar ele até o telhado do colégio!

— Tenho uma idéia ainda mais interessante — falei, pois interessante era uma exce­lente palavra para se usar quando se queria impressionar outros meninos e fazê-los pensar que você talvez fosse um psicopata débil mental. — Que tal a gente tentar ver se eu consigo chutar a sua bunda gorda até o telhado do colégio?

— Qual é o seu problema? — perguntou Billy. — Está naqueles dias?

             Agarrei Art e desci do brinquedo. Cassius empalideceu. John Erikson recuou aos tropeções. Segurei Art debaixo de um dos braços, com os pés esticados apontando na direção dos garotos e a cabeça voltada para o outro lado.

— Vocês são uns babacas — falei. Em alguns momentos simplesmente não dá para fazer piada.

             E virei as costas. Minha nuca se arrepiou quando pensei no taco de beisebol de Billy me atingindo na cabeça, mas ele não fez nada, e me deixou passar.
             Saímos para o campo de beisebol e nos sentamos no montinho do arremessador. Art me escreveu um bilhete agradecendo, outro dizendo que eu não precisava ter feito o que fiz, mas que estava feliz por eu ter feito, e um terceiro dizendo que ele me devia uma. Enfiei os três bilhetes no bolso depois de ler, sem saber o motivo. Naquela noite, sozinho no quarto, tirei do bolso uma bola de papel amassado, do tamanho de um limão, separei cada bilhete, estiquei em cima da cama e li todos os três outra vez. Não havia nenhum motivo para não jogá-los fora, mas eu não o fiz e, pelo contrário, comecei uma coleção. Era como se alguma parte de mim soubesse, já naquela época, que eu talvez fosse querer guardar alguma coisa que lembrasse Art depois de ele ir embora. Juntei centenas desses bilhetes ao longo do ano seguinte, alguns com poucas palavras, outros verdadeiros manifestos de seis páginas. Ainda tenho a maioria deles, desde o primeiro bilhete que ele me entregou, o que começa com “Estou pouco li­gando para o que eles fizerem”, até o último, que termina assim:

QUERO VER SE Ê VERDADE. SE O CÉU SE ABRE LÁ EM CIMA.

             No início, meu pai não gostou de Art, mas depois de conhecê-lo melhor passou a detestá-lo de verdade.

— Por que ele está sempre andando desse jeito esquisito? — perguntou meu pai. — Ele é bicha, por acaso?

— Não, pai. Ele é inflável.

— Bom, ele se comporta feito uma bicha — disse ele. — Espero que você não esteja de veadagem com ele lá no seu quarto.

             Art tentou fazer meu pai gostar dele, tentou construir um relacionamento. Mas as coisas que ele fazia eram mal interpretadas; as frases que ele dizia eram mal com­preendidas. Meu pai certa vez comentou alguma coisa sobre um filme de que gosta­va. Art escreveu-lhe um bilhete dizendo que o livro era ainda melhor.

— Ele acha que eu sou um analfabeto — disse meu pai assim que Art foi embora. Em outra ocasião, Art reparou na pilha de pneus velhos guardados na nossa garagem e falou com o meu pai sobre um programa de reciclagem que, se você levasse seus pneus velhos, ganhava 20% de desconto em pneus novos da Goodyear.

— Ele acha que nós somos uns pobretões — reclamou meu pai antes mesmo de Art estar longe o suficiente para não escutá-lo. — Enxerido de meia-tigela.

             Um dia, Art e eu chegamos do colégio e encontramos meu pai em frente à TV com um pit bull deitado a seus pés. O cachorro se projetou do chão, latindo histeri­camente, e foi direto para cima de Art. Suas unhas fizeram um barulho escorrega­dio e estridente ao deslizarem sobre o peito de plástico de Art, que se apoiou em um dos meus ombros e projetou-se no ar. Ele realmente sabia pular quando precisava. Agarrou-se ao ventilador de teto — desligado — e ficou se segurando nas pás en­quanto o pit bull latia e pulava no chão.

— Que diabo é isso? — perguntei.

— O cachorro da casa — disse meu pai. — Como você sempre quis.

— Eu nunca quis um cachorro que tentasse comer os meus amigos.

— Desça do ventilador, Art. Isso não foi feito para você se pendurar.

— Isso não é um cachorro — falei. — É um liquidificador peludo.

— Escute, você quer dar um nome para ele, ou dou eu? — perguntou papai. Art e eu fomos nos esconder no quarto e ficamos conversando sobre nomes.

— Floquinho — falei. — Docinho. Arco-íris.

QUE TAL FELIZ? SOA BEM, NÃO ACHA?

             Estávamos brincando, mas Feliz não era brincadeira. Em apenas uma semana, Art teve pelo menos três encontros quase fatais com o feio cão do meu pai.

SE ELE CRAVAR OS DENTES EM MIM, ESTOU ACABADO. ELE VAI ME FURAR TODINHO.

             Mas Feliz não aprendeu a fazer as necessidades fora de casa, e deixava cagalhões espalhados pela sala, difíceis de se ver no tapete marrom-escuro. Uma vez, meu pai pisou descalço em um cocô fresco e isso o deixou um pouco fora de si. Ele perseguiu Feliz pelo térreo com um taco de golfe, abriu um rombo na parede e espatifou uns pratos na bancada da cozinha com um golpe descontrolado.
             No dia seguinte construiu um cercado gradeado no quintal. Feliz entrou lá den­tro e nunca mais saiu.
             Àquela altura, porém, Art já ficava nervoso quando visitava a minha casa, e prefe­ria que nos encontrássemos na sua. Eu não via razão para isso. A caminhada até a casa dele era longa, e a minha casa ficava logo ali, depois da esquina.

— Com o que você está preocupado? — perguntei a ele. — Ele está no canil. Você sabe que o Feliz não vai aprender a abrir o portão.

             Art sabia... mas, mesmo assim, não queria mais ir à minha casa e, quando ia, em geral levava uns adesivos de consertar pneus de bicicleta como garantia para o caso de acontecer algo sinistro.
             Depois que se tornou um hábito irmos à casa de Art todos os dias, fiquei me perguntando por que antes eu preferia que fôssemos à minha. Acostumei-me com a caminhada — fiz aquele percurso tantas vezes que deixei de reparar que era tão comprido a ponto de ser quase interminável. Chegava até a ansiar por ele, meu pas­seio vespertino por um emaranhado de ruas, passando por casas pintadas em tons de pastel dignas de Walt Disney: amarelo-limão, madrepérola, tangerina. Enquanto eu ia percorrendo a distância que separava a minha casa da de Artie, parecia que estava entrando cada vez mais fundo em um mundo de silêncio e ordem, e no coração de toda essa paz estava o meu amigo.
             Art não podia correr, nem conversar, nem chegar perto de nada pontiagudo, mas na sua casa conseguíamos nos manter entretidos. Ficávamos vendo TV. Eu não era como as outras crianças, não sabia nada sobre televisão. Meu pai, como já disse, tinha enxaquecas terríveis. Vivia do seguro por invalidez, morava na sala e passava o dia inteiro acompanhando cinco novelas diferentes. Eu tentava não incomodá-lo, e raramente me sentava para ver TV com ele — sentia que a minha presença era uma distração em um momento em que ele queria se concentrar.
             Art teria assistido a qualquer coisa que eu quisesse, mas eu não sabia o que fazer com um controle remoto. Não conseguia escolher, não sabia escolher. Havia perdi­do o hábito. Art era fã da NASA, então víamos qualquer coisa que tivesse a ver com o espaço. Nunca perdíamos o lançamento de um foguete. Ele escreveu:

QUERO SER ASTRONAUTA. ME ADAPTARIA MUITO BEM À AUSÊNCIA DE PESO. EU JÁ QUASE NÃO TENHO PESO.

             Isso aconteceu quando estavam montando a Estação Espacial Internacional. Fala­vam sobre como é difícil as pessoas passarem muito tempo no espaço. Os músculos se atrofiam. O coração encolhe até ficar com um terço do tamanho.

AS VANTAGENS DE ME MANDAR PARA O ESPAÇO SÓ AUMENTAM. EU NÃO TENHO MÚSCULOS PARA ATROFIAR NÃO TENHO CORAÇÃO PARA ENCOLHER ESTOU DIZENDO. EU SOU O ASTRONAUTA IDEAL. O ESPAÇO É O MEU LUGAR

— Conheço um cara que pode te ajudar a ir para lá. Deixa eu ligar para o Billy Spears. Ele está doido para te mandar para o espaço que nem um foguete. Art me lançou um olhar duro e rabiscou uma resposta grosseira. Nem sempre era possível ficar deitado na frente da telinha na casa de Art. Seu pai era professor de música e dava aulas para crianças pequenas no piano de cauda que ficava na sala, perto da televisão. Se ele tivesse de dar uma aula, precisávamos arru­mar outra coisa para fazer. Íamos para o quarto de Art brincar no computador mas, depois de 20 minutos de canções infantis ressoando através das paredes — um som estridente, fora de compasso —, começávamos a lançar olhares de desespero um para o outro e saíamos pela janela para não precisar dar explicações.
             Os pais de Art tinham talento para a música, a mãe dele era violoncelista. Queriam que Art tivesse estudado música, mas isso só trouxera fracasso e decepção desde o início.

NÃO SEI TOCAR NEM APITO.

             Piano estava fora de cogitação. Ele só tinha polegares e uma almofada fofinha onde deveriam ficar os outros dedos. Com mãos assim, precisou de anos de traba­lho com ura professor particular somente para aprender a escrever de forma legível com um lápis de cera. Por motivos evidentes, instrumentos de sopro também estavam fora de questão: Art não tinha pulmões, nem respirava. Tentou aprender a tocar percussão, mas não conseguia bater com força suficiente nos instrumentos.
             Sua mãe comprou-lhe uma câmera digital. “Faça música com cores”, disse ela. “Crie melodias com luz.”
             A Sra. Roth estava sempre dizendo coisas assim. Falava sobre unicidade, sobre a elegância das árvores, sobre as pessoas não se sentirem gratas pelo cheiro de grama cortada. Art me disse que, quando eu não estava por perto, ela fazia perguntas a meu respeito. Ficava preocupada por eu não ter uma válvula de escape saudável para meu lado criativo. Dizia que eu precisava de alguma coisa para alimentar meu eu interior. Comprou-me um livro de origami, e nem era meu aniversário.

— Eu não sabia que o meu eu interior estava com fome — falei para Art.

É PORQUE ELE JÁ MORREU DE INANIÇÃO.

             Ela ficou alarmada ao descobrir que eu não tinha nenhum tipo de religião. Meu pai não me levava à igreja nem me mandava para o catecismo. Dizia que a religião era um engodo. A Sra. Roth era educada demais para fazer qualquer comentário comigo a respeito do meu pai, mas fazia com Art, e Art contava para mim. Disse a ele que, caso meu pai negligenciasse o cuidado com meu corpo do mesmo jeito que negligenciava o cuidado com meu espírito, ele seria preso e eu iria parar em uma família adotiva. Também disse a Art que, se eu fosse parar em uma família adotiva, ela própria iria me adotar, e eu poderia dormir no quarto de hóspedes. Eu a amava e sentia meu coração disparar sempre que ela me perguntava se eu queria um copo de limonada. Teria feito qualquer coisa que ela pedisse.

— A sua mãe é uma idiota — falei para Art. — Uma retardada completa. Espero que você saiba disso. Não existe nenhuma unicidade. É cada um por si. Qualquer pessoa que pense que nós somos todos irmãos acaba sentada debaixo da bunda gorda do Cassius Delamitri no recreio, cheirando a cueca dele.

             A Sra. Roth queria me levar à sinagoga — não para me converter, somente como uma experiência educativa, uma exposição a outras culturas, essas coisas —, mas o pai de Art jogou-lhe um balde de água fria dizendo nem pensar, isso não é problema nosso, ficou maluca? Ela havia colado um adesivo no carro com a estrela-de-davi e a palavra orgulho escrita ao lado, arrematada por um grande ponto de exclamação.

— Então, Art — disse em outra ocasião. — Eu tenho uma pergunta judaica para te fazer. Você e a sua família são judeus da pesada, não é?

NÃO SEI SE EU DESCREVERIA A GENTE EXATAMENTE COMO DA PESADA. NA VERDADE, A GENTE É BEM RELAXADO. MAS VAI À SINAGOGA E RESPEITA OS FERIADOS — ESSE TIPO DE COISAS.

— Eu achei que os judeus tivessem de cortar o pinto — falei, segurando minhas partes. — Em nome da fé. Então me diga...

Mas Art já estava escrevendo.

NÃO NO MEU CASO. EU ME LIVREI DESSA. OS MEUS PAIS ERAM AMIGOS DE UM RABINO MODERNO. CONVERSARAM COM ELE SOBRE ISSO LOGO QUE EU NASCI. SÓ PARA DESCOBRIR QUAL ERA A POSIÇÃO OFICIAL.

— E o que foi que ele disse?

DISSE QUE A POSIÇÃO OFICIAL ERA ABRIR UMA EXCEÇÃO PARA QUALQUER PESSOA QUE FOSSE DE FATO EXPLODIR DURANTE A CIRCUNCISÃO. MEUS PAIS

ACHARAM QUE ELE ESTIVESSE BRINCANDO, MAS DEPOIS A MINHA MÃE FEZ UMAS PESQUISAS. COM BASE NO QUE ELA DESCOBRIU, PARECE QUE EU ESTOU

NUMA BOA — TALMUDICAMENTE FALANDO. MAMÃE DISSE QUE O PREPÚCIO TEM QUE SER DE PELE. SE NÃO FOR NÃO PRECISA SER CORTADO.

— Que engraçado — falei. — Eu sempre achei que a sua mãe não conhecesse um pau. Mas agora está parecendo que ela conhece, sim. É especialista, até. Ei, se ela algum dia quiser fazer mais pesquisas, eu tenho um espécime diferente para ela examinar.

             E Art escreveu que ela iria precisar trazer um microscópio, e eu disse que ela iria precisar recuar alguns metros quando eu abrisse a braguilha, e coisa e tal, nem pre­ciso contar, vocês podem imaginar o resto da conversa. Sempre que tinha uma opor­tunidade, eu sacaneava Art por causa de sua mãe; não conseguia evitar. Começava a falar na hora em que ela saía da sala, sussurrando que, para uma velha, ela ainda tinha uma bunda bem legal, e perguntava o que Art iria pensar se o seu pai morresse e eu me casasse com ela. Art, por sua vez, nunca fez nenhuma piada sobre o meu pai. Se alguma vez ele quisesse me provocar, zombava da forma como eu lambia os dedos depois de comer, ou de como eu nem sempre usava as duas meias iguais. Não é difícil entender por que Art nunca jogou meu pai na minha cara, do mesmo jeito que eu o enchia em relação à sua mãe. Quando o seu melhor amigo é feio — quero dizer, feio mesmo, deformado—, você não fica fazendo piadas sobre espelhos quebra­dos. Em uma amizade, especialmente uma amizade entre dois garotos, você tem permissão para causar uma determinada quantidade de dor. Isso é até esperado. Mas não pode causar nenhum ferimento grave; nunca, em circunstância alguma, deve deixar feridas que irão resultar em cicatrizes permanentes.

             A casa de Arthur também era onde geralmente fazíamos o dever de casa. No início da noite, íamos para o seu quarto estudar. A essa altura, seu pai já tinha terminado as aulas, então não havia nenhum plim-plim vindo da sala ao lado para nos distrair. Eu gostava de estudar no quarto de Art, gostava do silêncio e de estar em um lugar cercado de livros; Art tinha prateleiras e mais prateleiras de livros. Eu achava legais as nossas sessões de estudo, mas elas me deixavam preocupado: era durante esses encontros — cercados por toda aquela imobilidade tranqüila — que Art tinha mais probabilidade de dizer alguma coisa sobre a morte.

             Eu sempre tentava controlar as nossas conversas, mas Art era astuto e conseguia incluir a morte em qualquer tema.

— Um árabe inventou o conceito do número zero — falei. — Não é estranho? Alguém teve que pensar no zero.

É PORQUE NÃO É ÓBVIO QUE O NADA SEJA ALGUMA COISA. QUE UMA COISA QUE NÃO PODE SER MEDIDA NEM VISTA MESMO ASSIM. EXISTA E TENHA SIGNIFICADO. É A MESMA COISA COM A ALMA, PENSANDO BEM.

— Verdadeiro ou falso — disse em outra ocasião, quando estávamos estudando para uma prova de ciências. — A energia nunca é destruída, pode apenas ser transforma­da de uma forma para outra.

ESPERO QUE ISSO SEJA VERDADE — SERIA UM BOM ARGUMENTO A FAVOR DA TESE DE QUE VOCÊ CONTINUA EXISTINDO DEPOIS DE MORRER MESMO QUE SE TRANSFORME EM ALGUMA COISA COMPLETAMENTE DIFERENTE DO QUE ERA ANTES.

             Ele falava muito sobre a morte e o que poderia vir depois dela, mas o que eu mais me lembro é das coisas que ele dizia sobre Marte. Estávamos fazendo um trabalho juntos e Art havia escolhido Marte como nosso tema, enfocando a questão de se o homem algum dia iria colonizar o planeta. Ele era totalmente a favor da coloniza­ção, cidades sob tendas de plástico, água tirada dos pólos gelados. O próprio Art queria ir para lá.

— Talvez seja até engraçado imaginar isso, mas a coisa em si seria uma merda. Poeira. Um frio glacial. Tudo vermelho. Você iria ficar cego de olhar para tanto vermelho. Na verdade, não iria querer fazer isso... ir embora deste mundo e nunca mais voltar.

             Art ficou olhando para mim durante muito tempo, em seguida inclinou a cabeça e escreveu um bilhete curto em azul-turquesa.

MAS EU VOU TER QUE FAZER ISSO DE QUALQUER MANEIRA. TODO MUNDO TEM.

Em seguida escreveu:

VOCÊ VIVE UMA VIDA DE ASTRONAUTA QUER QUEIRA, QUER NÃO. DEIXA TUDO PARA. TRÁS EM TROCA DE UM MUNDO QUE DESCONHECE. SIMPLESMENTE É ASSIM QUE ACONTECE.

             Na primavera, Art inventou um jogo chamado Satélite Espião. Havia uma loja no centro da cidade, o Empório da Festa, onde se podia comprar balões cheios de gás hélio por 25 centavos. Eu os comprava e ia encontrar Art em algum lugar. Ele leva­va a câmera digital.
             Assim que eu lhe entregava os balões, Art se desprendia da terra e erguia-se no ar. Àmedida que ia subindo, o vento o empurrava mais para cima e mais para longe. Quando achava que já estava alto o suficiente, ele soltava alguns balões, estabilizava-se e começava a tirar fotos. Quando estava pronto para descer, soltava mais balões. Eu o encontrava onde ele havia aterrissado e íamos para a sua casa olhar as fotos no seu lap-top. Fotos de gente nadando em suas piscinas, de homens consertando telhados; fotos em que eu aparecia sozinho em ruas desertas, com o rosto virado para cima como um borrão marrom minúsculo, os traços distantes demais para se poder identificar; fotos que sempre tinham os tênis de Art pendurados na extremidade inferior do quadro.
             Algumas de suas melhores fotos eram de baixa altitude, tiradas quando ele esta­va a poucos metros do chão. Certa vez, Art pegou os balões e saiu flutuando por cima do canil de Feliz, na lateral da nossa casa. O cachorro ficava o dia inteiro naquele lugar fechado, latindo freneticamente para mulheres que passavam com carrinhos, para o tilintar da carrocinha do sorveteiro, para os esquilos. Havia piso­teado todo o chão do seu cercado até transformá-lo em lama. À sua volta estavam espalhadas dúzias de pilhas de cocô seco. No meio de toda essa feia paisagem mar­rom ficava o próprio Feliz e, em todas as fotos que Art tirou dele, o cachorro apare­cia pulando sobre as patas traseiras, com a boca aberta exibindo a cavidade interna cor-de-rosa e os olhos fixos nos tênis pendurados de Art.

ESTOU DEPRIMIDO. QUE LUGAR HORRÍVEL PARA SE VIVER

— Deixe de ser idiota — falei. — Se criaturas como o Feliz tivessem permissão para andar soltas, o mundo inteiro ficaria como aquele canil. Ele não quer viver em ne­nhum outro lugar. Cocô e lama: é essa a imagem que o Feliz tem de um jardim.

DISCORDO TOTALMENTE.
             Apesar da opinião contrária de Arthur, o tempo não havia abrandado minhas opiniões com relação a esse assunto. Acredito que, em geral, criaturas da laia de Feliz — estou pensando tanto em cães quanto em seres humanos — vivem mais livres do que presas, e na verdade o que elas desejam é um mundo de lama e fezes, um mundo onde não exista Art nem ninguém parecido com ele, um lugar onde ninguém fale de livros nem de Deus nem dos mundos que existem além deste, um lugar onde a única comunicação seja o latido histérico de cachorros famintos e cheios de ódio.
             Em uma manhã de sábado, em meados de abril, meu pai abriu a porta do quarto e me acordou jogando meus tênis em cima da cama.

— Você tem consulta no dentista daqui a meia hora. Levante esse traseiro daí.

Fui a pé — o dentista ficava a poucos quarteirões de casa —, e já estava sentado na sala de espera havia 20 minutos, morrendo de tédio, quando me lembrei de que dis­sera a Art que passaria na sua casa assim que acordasse. A recepcionista me deixou usar o telefone para ligar para ele. A mãe dele atendeu.

— Ele acabou de sair para ir à sua casa encontrar você — disse ela. Liguei para o meu pai.

— Ele não apareceu por aqui — ele respondeu. — Não o vi, não.

— Fique de olho.

— Ah, tá. Estou com dor de cabeça. O Art sabe usar a campainha.

             Fiquei sentado na cadeira do dentista, com a boca escancarada, sentindo gosto de sangue e hortelã e lutando contra o nervosismo e a impaciência para sair dali. Talvez eu não confiasse no meu pai para tratar Art com decência sem eu estar presente. A assistente do dentista não parava de tocar no meu ombro dizendo que eu relaxasse.
             Quando a consulta terminou e eu saí do consultório, o azul profundo e vivido do céu me desorientou um pouco. A luz do sol era tão brilhante que fazia doer minha cabeça, incomodava meus olhos. Eu já estava acordado fazia duas horas, mas ainda sentia a cabeça enevoada e os movimentos embotados como se não estivesse total­mente desperto. Comecei a correr.
             A primeira coisa que vi quando cheguei perto da minha casa foi Feliz, fora do canil. Ele nem sequer latiu para mim. Estava deitado de bruços na grama, com a cabeça entre as patas. Ergueu as pálpebras sonolentas para me ver chegar, depois deixou-as desabarem até tornarem a se fechar. A porta do seu cercado estava aberta.
             Estava tentando ver se ele estava deitado em cima de uma pilha de plástico rasga­do quando ouvi o primeiro barulho fraco de alguém batendo em alguma coisa. Virei a cabeça e vi Art dentro da caminhonete do meu pai, batendo com as mãos no vidro. Fui até lá e abri a porta. Nesse instante, Feliz explodiu num acesso de latidos descon­trolados. Agarrei Art com os dois braços, dei meia-volta e saí correndo. Os dentes de Feliz abocanharam um pedaço da perna esvoaçante da minha calça. Ouvi um baru­lho nítido de algo se rasgando, tropecei e segui em frente.
             Corri até sentir uma pontada de dor na lateral do abdômen e até não ver mais ne­nhum cachorro — pelo menos uns seis quarteirões. Desabei no quintal de alguém. A perna da minha calça estava rasgada do joelho até o tornozelo. Dei a primeira olha­da em Art. Foi uma visão perturbadora. Eu estava tão ofegante que tudo que consegui foi emitir um ganido débil, apagado — do tipo que ele estava sempre soltando.
             O seu corpo havia perdido a brancura de marshmallow. Agora estava mais es­curo, marrom-dourado, o que lhe dava o aspecto de um marshmallow ligeiramente tostado. Ele parecia ter esvaziado até mais ou menos metade do seu tamanho habi­tual. O queixo estava caído para a frente do corpo. Ele não conseguia manter a cabeça erguida.
             Art estava atravessando o nosso gramado quando Feliz irrompeu de seu escon­derijo debaixo da cerca. Nesse primeiro instante crucial, Art viu que nunca iria con­seguir correr mais do que o cachorro da família. Qualquer tentativa de fazer isso iria deixá-lo com o traseiro cheio de furos fatais. Então, em vez disso, ele pulou para dentro da caminhonete e bateu a porta.
             As janelas eram automáticas — não havia como abri-las. Se Art tentasse abrir qual­quer porta, Feliz tentava enfiar a boca lá dentro para mordê-lo. Fora do carro a tem­peratura era de 21 graus, e do lado de dentro era de quase 40. Art ficou olhando deso­lado enquanto Feliz se aboletava no gramado ao lado da caminhonete para esperar.
             Art ficou sentado. Feliz não saiu do lugar. Cortadores de grama zumbiam ao longe. A manhã foi passando. Com o tempo, Art começou a murchar com o calor. Sentiu-se mal, tonto. Sua pele de plástico começou a colar nos assentos.

AÍ VOCÊ APARECEU. BEM A TEMPO. VOCÊ SALVOU A MINHA VIDA.

             Mas meus olhos se enevoaram e as lágrimas escorreram pelo meu rosto, molhan­do o seu bilhete. Eu não havia chegado a tempo — não mesmo.
             Art nunca mais foi o mesmo depois disso. Sua pele conservou uma cor amarela­da, e ele desenvolveu um problema de esvaziamento crônico. Seus pais o enchiam de ar e, durante algum tempo, ele ficava bem, com o corpo cheio de oxigênio, mas dali a pouco tornava a ficar vazio e murcho. O médico deu uma olhada nele e disse a seus pais que não adiassem mais a ida à Disney.
             Eu também nunca mais fui o mesmo. Estava infeliz — não conseguia comer, sofria com dores de estômago inesperadas, estava sempre taciturno e carrancudo.

— Tire essa expressão da cara — disse meu pai certa noite, durante o jantar. — A vida continua. Encare os fatos.

             Eu estava encarando os fatos. Sabia que o portão do canil de Feliz não abria sozi­nho. Fiz vários furos nos pneus da caminhonete, depois deixei o canivete enfiado em um deles, para meu pai ter certeza de quem tinha sido o responsável. Ele chamou a polícia e fez eles fingirem que iam me prender. Os policiais me levaram para dar uma volta na viatura e falaram duro comigo durante algum tempo, depois disseram que me levariam de volta para casa se eu “andasse na linha”. No dia seguinte, tran­quei Feliz dentro da caminhonete e ele cagou no banco do motorista. Meu pai reco­lheu todos os livros que Art me indicara, o Bernard Malamud, o Ray Bradbury, o Isaac Bachevis Singer. Queimou tudo na churrasqueira.

— E agora, espertinho? — perguntava-me ele enquanto despejava fluido de isqueiro em cima dos livros.

— Por mim, tudo bem — retruquei. — Eu peguei esses livros com o seu cartão da biblioteca.

Nesse verão, passei muitas noites na casa de Art.

NÃO FIQUE BRAVO. NÃO É CULPA DE NINGUÉM.

— Não seja idiota — falei, mas depois não consegui dizer mais nada, porque o sim­ples fato de olhar para ele me fazia chorar.

             No fim de agosto, Art me telefonou. Eram quase sete quilômetros de ladeira até o lugar onde ele sugeriu que nos encontrássemos — Scarswell Cove —, mas, àquela altura, os meses indo a pé até a casa de Art depois da aula já haviam me deixado acostumado a longas caminhadas. Levei vários balões, conforme ele havia me pedido.
             Scarswell Cove é uma praia de seixos protegida que dá para o mar aberto, onde as pessoas entram na água para pescar na parte rasa. Não havia ninguém lá, com exceção de um casal de velhos pescadores e de Art, sentado no calçadão. Seu corpo tinha um aspecto mole e murcho, sua cabeça pendia para a frente e balançava, sem força, sobre o pescoço inexistente. Fui me sentar ao seu lado. A pouco menos de um quilômetro, as águas azul-escuras se erguiam em ondas geladas.

— O que está acontecendo? — perguntei.

Art pensou um pouco. Então começou a escrever.

SABIA QUE TEVE GENTE QUE JÁ FOI PARA O ESPAÇO SIDERAL SEM USAR FOGUETES? CHUCK YEAGER VOOU TÃO ALTO EM UM JATO DE ALTA PERFORMANCE QUE O AVIÃO COMEÇOU A DESPENCAR — DESPENCAR PARA CIMA. NÃO PARA BAIXO. VOOU TÃO ALTO QUE A GRAVIDADE DEIXOU DE FUNCIONAR SOBRE ELE. O JATO DELE CAIU PARA FORA DA ESTRATOSFERA. A COR DO CÉU SE DESMANCHOU. ERA COMO SE O CÉU AZUL FOSSE FEITO DE PAPEL E HOUVESSE UM BURACO ABERTO NO MEIO DELE, E ATRÁS DISSO FOSSE TUDO PRETO. TUDO ESTAVA CHEIO DE ESTRELAS. IMAGINE CAIR PARA CIMA.

             Olhei para o bilhete dele, depois novamente para seu rosto. Ele estava escrevendo de novo. Seu segundo recado foi mais simples.

ESTOU DE SACO CHEIO. SÉRIO — PRA MIM, CHEGA. ESTOU ESVAZIANDO UMAS 15 OU 16 VEZES POR DIA. PRECISO DE ALGUÉM PARA ME ENCHER PRATICAMENTE DE HORA EM HORA. ME SINTO MAL O TEMPO TODO E DETESTO ISSO. NÃO É VIDA

— Ah, não — falei. Minha visão embaçou. Lágrimas brotaram e transbordaram dos meus olhos. — Tudo vai melhorar.

NÃO. EU ACHO QUE NÃO. A QUESTÃO NÃO É SE EU VOU MORRER, A QUESTÃO É DESCOBRIR ONDE. E EU JÁ DECIDI. VOU VER ATÉ ONDE CONSIGO SUBIR. QUERO VER SE É VERDADE. SE O CÉU SE ABRE LÁ EM CIMA.
             Não sei o que mais eu disse a ele. Muitas coisas, imagino. Pedi-lhe para não fazer aquilo, para não me abandonar. Disse que não era justo. Disse que eu não tinha mais nenhum amigo. Disse que sempre tinha me sentido sozinho. Falei até começar a tro­car as palavras e ficar engasgado, soluçando sem conseguir me conter, e ele me abraçou com seus braços murchos de plástico e ficou me segurando enquanto eu escondia o rosto no seu peito.
             Ele pegou os balões da minha mão e enrolou-os em um dos pulsos. Segurei sua outra mão e andamos até a beira d’água. As ondas batiam e molhavam meus tênis. O mar estava tão frio que tive cãibras nos pés. Levantei-o e segurei-o com os dois braços, apertando-o até ele emitir um gemido triste. Ficamos um tempão abraçados. Então o soltei. Espero que, se existir um outro mundo, não sejamos julgados pelas coisas que fizemos de errado aqui embaixo — espero que sejamos ao menos perdoa­dos pelos erros que cometemos por amor. Não tenho dúvidas de que isso foi uma espécie de pecado, soltar alguém assim.
             Ele saiu voando. O vento o virou, deixando-o de frente para mim enquanto saía flutuando por cima d’água, com o braço esquerdo erguido acima da cabeça e os ba­lões presos ao pulso. Sua cabeça estava inclinada para baixo, em um ângulo pensati­vo, fazendo parecer que ele estava me examinando.
             Fiquei sentado na praia vendo-o ir embora. Olhei até não conseguir mais distin­gui-lo das gaivotas que voavam em círculos e davam rasantes na água, a alguns qui­lômetros de distância. Ele era apenas mais um pontinho passeando pelo céu. Não me mexi. Não tinha certeza se conseguiria me levantar. Depois de algum tempo, o horizonte adquiriu um tom cor-de-rosa desbotado, e o céu azul escureceu até ficar preto. Deitei-me na areia e fiquei vendo as estrelas pipocarem no céu. Continuei olhando até ser dominado pela tontura, imaginando meu corpo sendo sugado do chão e caindo para dentro da noite lá em cima.
             Desenvolvi problemas emocionais. Quando as aulas recomeçaram, chorava ao ver alguma carteira vazia. Não conseguia responder às perguntas nem fazer o dever de casa. Fui reprovado e tive de repetir a sexta série.
             O pior de tudo é que ninguém mais acreditava que eu fosse perigoso. Era impos­sível sentir medo de mim depois de ter me visto me debulhar em lágrimas tantas vezes. Eu não tinha mais o canivete; meu pai o havia confiscado.
             Um dia, depois da aula, Billy Spears me deu uma surra — abriu meu lábio, deixou um dente mole. John Erikson me segurou no chão e escreveu bolsa de colostimia na minha testa compilot. Ainda estava tentando acertar a ortografia. Cassius Delamitri me pegou de tocaia, me empurrou e pulou em cima de mim, esmagando-me com seu peso, tirando todo o ar dos meus pulmões. Era como se eu tivesse sido esvaziado; Art teria entendido perfeitamente.
             Eu evitava passar pela casa dos Roths. Queria, mais do que tudo, ver a mãe de Art, mas mantinha distância. Tinha medo de que, se eu falasse com ela, acabasse despe­jando tudo, que eu estivera lá no final, que havia ficado em pé no meio das ondas e soltado a mão de Art. Tinha medo do que talvez fosse ver nos olhos dela; tinha medo de sua mágoa, de sua raiva.
             Menos de seis meses depois de o corpo vazio de Art ser encontrado boiando na praia de North Scarswell, uma placa de “Vende-se” apareceu na frente da casa dos Roths. Nunca mais vi nem seu pai nem sua mãe. A Sra. Roth me mandava cartas de vez em quando, perguntando como eu estava passando, mas eu nunca respondia. No final das cartas, ela sempre escrevia “com amor”.
             Comecei a praticar atletismo no ensino médio e me destaquei no salto com vara. Meu treinador dizia que a lei da gravidade não se aplicava a mim. Ele não sabia por­ra nenhuma sobre gravidade. Por mais alto que eu subisse, sempre acabava descen­do, igualzinho a todo mundo.
             O salto com vara me valeu uma bolsa na universidade estadual. Eu me socializa­va pouco. Ninguém na faculdade me conhecia, e finalmente consegui reconstruir minha reputação de sociopata. Não freqüentava as festas. Não saía com nenhuma garota. Não queria conhecer ninguém.
             Certa manhã, eu estava atravessando o campus e vi uma menina novinha vindo na minha direção, com os cabelos tão pretos que tinham o brilho frio e azul do petróleo. Estava usando um suéter grosso e uma saia na altura do tornozelo; um traje bem pouco sexy, mas mesmo assim dava para ver que tinha um corpo lindo, quadris estreitos, seios altos e cheios. Seus olhos eram de vidro azul, sempre abertos, e sua pele era branca como a de Art. Era a primeira vez que eu via uma pessoa inflá­vel desde que Art saíra flutuando nos balões. Um garoto que vinha atrás de mim assobiou para ela. Eu dei um passo para o lado e, quando ele passou, estiquei a perna para ele cair e vi seus livros voarem para tudo quanto é lado.

— Você é algum tipo de psicopata? — guinchou ele.

— Sou — respondi. — Exatamente.

             O nome dela era Ruth Goldman. Tinha um remendo de borracha redondo no calcanhar de um dos pés, de quando pisara em um caco de vidro ainda menina, e um remendo quadrado um pouco maior no ombro esquerdo, onde um galho pon­tiagudo a havia furado num dia de vento. Uma educação em casa com professores particulares e pais obsessivamente protetores a haviam salvado de maiores danos. Ambos fazíamos Letras. Seu escritor preferido era Kafka — porque ele compreendia o absurdo. O meu preferido era Malamud — porque ele compreendia a solidão.
             Nós nos casamos no mesmo ano de nossa formatura. Embora eu permaneça céti­co em relação à vida eterna, converti-me ao judaísmo sem qualquer pressão da parte dela, cedendo finalmente ao desejo de ter alguma conversa sobre espiritualidade na minha vida. Será que se pode chamar isso realmente de conversão? De toda forma, o nosso casamento foi uma cerimônia judaica, com vidro debaixo de uma toalha branca, esmigalhado pelo salto da bota.
Certa tarde, contei a ela sobre Art.

QUE HISTÓRIA MAIS TRISTE. EU SINTO MUITO.

Ela escreveu isso com lápis de cera e pôs a mão por cima da minha.

O QUE HOUVE? ELE FICOU SEM AR?

— Não. Ficou sem céu — respondi.



Agora, os vídeos do curta:



Espero que essa experiência tenha sido válida, e em breve virão os outros contos!
Bejinhos.


24 Comentários

  1. Olá, Tisa!
    Conheço ''Fantasmas do Século XX'' apenas de nome. O ''conheci'' logo depois que me interessei por ''O Pacto'', enquanto pesquisava sobre outros livros do Joe.
    Esse conto é totalmente diferente do que eu esperava. Achei bem triste, confesso. Só consigo dizer uma coisa: ''OLHO PARA O TECLADO DE MEU PC E NÃO SEI O QUE DIZER, SÓ SENTIR'' huahua Não cheguei a chorar mas preciso dizer que me senti tocada. Não tenho o costume de ler livros/contos assim justamente porque sei que sou manteiga derretida e de alguma forma esse tipo de leitura me deixa triste. Mas foi uma experiência diferente. Eu realmente não esperava algo assim vindo do Joe.
    Parabéns pelo post. Você escreve muito!
    Abraços.
    http://blogladoescuro.blogspot.com.br/

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    1. hahahahaha acho que esse meme descreve perfeitamente a sensação pós conto, até hoje me sinto assim depois de o ler.
      Admito que também não costumo ler muito drama, eles mexem demais comigo (às vezes mais do que deveriam) e eu fico super na bad, mas na época esse aí me pegou de surpresa, pois eu imaginava que todos os contos seriam de terror meio thrash hahah
      Obrigadaaa!
      Beijinhos.

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  2. Olá,
    Eu li dois livro do autor e gostei muito dos dois. Um deles me deu bastante medo, mas nada que um cachorro por perto não resolva hehe. Esse eu ainda não conhecia e gostei bastante do conto. Traga outros contos sim.

    Blog Prefácio

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    1. Quais outros vocês leu?
      Acho que, dos livros do Joe, o único que me deu medo foi A Estrada das Noite, mas ainda assim nada muito "noossaaaa, como estou morrendo de medo", foi bem tranquilo hahaha
      Pode deixar! <3

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  3. O que eu mais gosto de literatura "de assustar" são os terrores (?) psicológicos. Eles alimentam a minha imaginação muito mais do que aquelas histórias de horror bem grotescas e cheias de bizarrices e tal - curto essas também, mas ainda prefiro as que tem um toque de sutileza e coisinhas escondidas e que deixam a imaginação fluir mais.

    Joe Hill é APENAS muito amor <3 E o pai também <3 Êta familiazinha massa!

    A propósito, temos um gosto um tanto quanto parecido para livros.

    #curtindo #seguindo #favoritando <3

    http://sinapseliquida.blogspot.com/

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    1. Idem totaaal! Também curto um terror thrash, mas os psicológicos sempre são muito mais bem elaborados e profundos, então, consequentemente, geram um medo mais real. Ao menos comigo hahahah
      Também achei que temos um gosto bastante parecido, por isso te segui. Gosto de ter contato com gente que lê coisa boa, rs.
      Obrigada! <3

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  4. Olá Tisa,
    Ainda não tinha lido nada do Joe, mas olha que não é por falta de vontade. Seu post mudou isso.
    Que conto é esse? MDSSSS, adorei o conto, sério, entendo porque você falou que é seu favorito. O Joe conseguiu me conquistar.
    Partiu tomar outras doses dele
    Beijos,
    http://mileumdiasparaler.blogspot.com.br/

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    1. Acho que todo mundo que curte terror moderno deveria conhecer um pouco do Joe Hill, acredito que ele seja uma das grandes caras atuais desse gênero.
      Fico feliz que tenha gostado, espero que acompanhe a coluna aqui do blog! <3

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  5. Oi Tisa!! Achei muito legal sua ideia, é uma ótima maneira de propagar a literatura.
    Seu post foi meu primeiro contato com o autor, tenho alguns livros na lista de sejo e agora, realmente, vejo que preciso ler. Amei o texto, muito emocionante e até mesmo reflexivo.
    Beijos
    lua-literaria.blogspot.com.br

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    1. Pois é, a intenção é essa mesma: motivar que a galera leia mesmo sem os livros em mãos.
      Que bom que gostou, Bia! Logo mais postarei outros contos do cara.
      Beijos. :)

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  6. Oi Tisa!
    Ainda não li nada do Joe Hill, apesar de ter um livro dele aqui.
    Achei bem interessante a ideia do conto e já deixei nos favoritos para ler com mais calma.

    Beijos,
    Epílogos e Finais

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    1. Qual livro dele você já tem?
      Leia sim, é bem legal.
      Abraço!

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  7. Tal pai, tal filho, né?
    O cara tem o dom da família mesmo!
    Não conhecia o conto, e amei! E adorei os vídeos. Apesar de que imaginei o Art diferente... Imaginei como um balão mesmo, tipo aquele personagem do desenho "O incrível mundo de Gumball... Viajei, eu sei!
    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    Mas o que importa é que eu adorei!
    Ansiosa pelos próximos contos! E olha que não sou uma grande fã de contos... A verdade é que até hoje não tinha lido nenhum que me fizesse dizer WOOOWWW, sabe...

    Beijos!
    Fabi Carvalhais
    Pausa Para Pitacos | Participe do TOP COMENTARISTA | Promoção PQ SIM!

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    1. Pois é, quando a gente vê casos assim dá até a sensação de que o talento é hereditário hahahaha
      Também imaginei o Art diferente, admito. Na verdade, eu imaginei ele beeem diferente, que nem um balão de verdade, tipo você hahahah
      Que bom que vai acompanhar! Espero que também goste dos próximos.

      Beijinhos. <3

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  8. Oláá!!!!
    Tudo bem?
    Primeira vez aqui *.*
    Gostei mt do seu cantinho ;)

    Nunca li nada do autor!
    Não sei se faria o meu estilo de leitura, mas o conto é bem instigante!!

    Sucesso!
    Beijinhos :*
    Sankas Books

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    1. Olá Thay! Tudo ótimo, e com você?
      Que bom que gostou daqui, obrigada. :)

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  9. Tisa, que incrível, adorei!

    Joe Hill é fantástico e ''Pop Art'' é muito reflexivo. Mudou o meu dia. Parabéns pelo post, gosto de matérias assim.

    http://leootaciano.blogspot.com.br

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    1. Olá Léo!
      Que bom que curtiu a matéria, pretendo transformar em coluna. Espero que as pessoas (inclusive você, rs) continuem curtindo os contos, pois sempre me pareceu que eles são meio negligenciados até pelas pessoas que dizem curtir o Hill, já que o livro Fantasmas do Século XX não parece ser muito famoso.

      Obrigada pelo o seu comentário, abraço!

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  10. AH MEO ODIN QUE COISA MAIS FOFA E TRISTE
    Eu já conhecia a escrita do Joe Hill por 'Horns', e já tinha gostado bastante, mas meu amor aumentou muito com esse conto.
    Serio, amei a historia, e muito boa mesmo.
    A descrição dele me lembrou um pouco o Baymax de Operaçao Big Hero, e a historia me lembrou um pouco um conto de Menino Balão escrito pelo Tim Burton.
    Bizarro e fofo, amei. Quero mais contos.
    xoxo

    planeta94.blogspot.com

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    1. Gosto muito do cara, ele é um dos meus escritores favoritos com motivo! hahaha
      Eu não conheço Operação Big Hero (mas acho que já ouvi falar) e nem esse conto do Menino Balão, mas legal saber deles, vou procurar sobre. :)

      Beijo!

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  11. Oi, Tisa! Tudo bem? Que ideia bacana essa sua de falar dos contos desse livro. Adorei a premissa de Pop Art e vou lê-lo assim que puder! :)

    Abraço

    http://tonylucasblog.blogspot.com.br/

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  12. Só falta agora eu ler algo da Tabitha King. Que família, hein. Acho o Joe um dos autores de terror mais promissores da nova geração, com um estilo próprio, apesar de ser filho de quem é.

    http://porquelivronuncaenguica.blogspot.com.br/

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    1. Também nunca li nada da Tabitha, mas admito que também nunca me interessei muito, rs.
      E eu concordo muito contigo em relação ao Hill, sou fã dele, acho que o cara escreve muito bem e cada livro novo eu consigo ver a progressão, e é bem legal acompanhar isso.

      Beijo!

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Deixe o link do seu blog para que eu dê uma olhada, e obrigada pela visita! :)