"Ratatatá"

     Acho que realmente sei que um livro é bom quando, ao final dele, fico com aquela agoniante sensação de desolamento, estupefata, incapaz de esboçar qualquer reação. É claro, como vou esboçar alguma reação se nenhuma das que conheço parecem ser dignas do tamanho sentimento que tenho? É assim que, após passar mais de 30 páginas em lágrimas ininterruptas, eu me senti com o final de Battle Royale. Terminei a leitura às 4h30 de uma madrugada, claramente muito após o horário que costumo dormir, mas eu simplesmente não conseguia parar até chegar ao fim.
     Pode parecer exagero, mas o desespero interno me tomou a ponto de deixar-me com o coração acelerado mesmo após o término. Já me senti assim com outras estórias, mas dá pra contar nos dedos de uma mão quando isso aconteceu com a leitura de apenas um livro - geralmente é ao fim de sagas. Mas é até compreensível, pois é um livro de 663 páginas e em mais de 600 a trama se passa no decorrer de apenas dois dias. Pois é, são seiscentas páginas para contar apenas dois dias. Livros menores que esse usam as páginas para contar o decorrer de anos, e ainda assim conseguem nos fazer apegar pelos personagens, imagina então quando se usa tantas páginas para tão poucos dias?
     E sabe o melhor? São seiscentas páginas contando sobre dois dias, mas a estória não torna-se enfadonha em absolutamente momento algum, e isso é fantástico.

     Enfim, deu para perceber como Battle Royale atingiu meus sentimentos, não é? Agora prometo que tentarei ser mais imparcial, mas não dou garantia de nada hahaha


     Eu imagino que a maioria já conheça o livro, mas talvez seja legal dar uma leve resumida, então lá vai:
     Em Battle Royale acompanhamos do início ao fim uma das edições do Programa, que nada mais é do que um Jogos Vorazes extremamente mais cruel. Para quem também não conhece Jogos Vorazes, trata-se de um jogo em que os jovens participantes são obrigados a jogar, e o objetivo final é apenas um deles acabar vivo. Ou seja, eles têm que matar uns aos outros. Entretanto, a diferença principal para Jogos Vorazes, e é logo aí que começa a crueldade, é que em Battle Royale todos os participantes se conhecem, e se conhecem muito bem, afinal, são a turma do nono ano de uma escola. Mais da metade deles são muito amigos e estudaram juntos durante anos, e de repente depararam-se com a situação de Matar ou Morrer. Outras diferenças (desculpa, eu não consigo explicar sem comparar com Jogos Vorazes) são que em Battle Royale o programa não é um reality show (só o que é divulgado à população é o vencedor e o modo como os outros alunos morreram ou foram assassinados) e que as lutas e acontecimentos têm base na realidade, ou seja, não encontramos traços de ficção exagerada. Tudo acontece dentro das possibilidades que conhecemos hoje em dia, não existem super-computadores, crianças-mega-treinadas-para-matar, realidades-gráficas. É tudo no cru mesmo, sabe? Apesar de ter alguns personagens que parecem ter uma resistência física fora do normal, eu realmente não sei dizer se em um momento de grande adrenalina a situação poderia ser parecida.
     Ah, e a estória se passa em um Japão extremamente fascista, praticamente uma Coréia do Norte da nossa realidade atual. O tal programa, no caso, é um fruto desse regime totalitário, tendo a intenção principal de mostrar à população que ninguém é confiável - nem mesmo seus melhores amigos de classe - para ajudar na repressão contra tentativas revolucionárias. Preciso dizer que em diversos momentos me lembrei de 1984, a incrível obra de George Orwell (que é um dos meus livros favoritos).

 "- É um regime fascista bem sucedido. Em que outra parte do mundo há algo tão malévolo?"

     Em muitas das resenhas e opiniões sobre o livro que li (senão todas), as pessoas davam bastante destaque ao fato de ser matança do início ao fim do livro, dizendo o quanto ele é agressivo e detalhista na hora de contar as mortes, houve gente dizendo até mesmo que o livro era quase gore! Mas cara, sinceramente, os detalhes das mortes nem de longe foram o que mais me impressionou, e isso porque sou sensível a esse tipo de coisa. Admito que se você tiver estômago fraco e uma boa imaginação, haverão passagens em que sentirá tontura (como eu senti), mas os acontecimentos e a forma que a trama segue em frente mexe muito mais com tua cabeça e com a sua sensibilidade do que machadinhas partindo cabeças ao meio. O livro realmente foi fundo em mim, houveram dias em que tive até pesadelos à noite de tão impressionada que estava com a estória. Comecei a me sentir assustada e sensível com as coisas ao meu redor enquanto lia, foi realmente bem bizarro.
     Enfim, como eu disse anteriormente, são muitas páginas para poucos dias, então os personagens (42 alunos, 21 meninos e 21 meninas) são super bem construídos, tão bem construídos que eu realmente me apeguei a alguns e me revoltei e chorei com a morte deles.
     Algo que me chamou atenção é a construção do livro, pois desde o primeiro capítulo, ao fim dele, há uma contagem de sobreviventes, como se o jogo já houvesse começado. Essa contagem ao fim de cada capítulo só para quando resta apenas um - o vencedor do programa. Como eu disse, é um livro cruel, e essa contagem prematura só intensifica isso, pois o primeiro capítulo é totalmente inocente e tranquilo (assim como qualquer passeio escolar de adolescentes), e ao fim dele nos deparamos com essa contagem que não apenas nos lembra, mas nos assusta com a ideia de que a leitura que virá pela frente será amarga.

     Battle Royale é um livro que te proporciona diversos sentimentos intensos ao longo da leitura, com uma escrita que te faz agoniar-se com os jovens de 14, 15 e 16 anos extremamente assustados e desorientados, você fica com o sentimento à flor da pele junto com eles. Mas, acima de tudo, ele te faz sentir raiva, muita muita muita raiva, tanta raiva que me dói só de lembrar. Os acontecimentos são desumanos e impensáveis. É realmente surpreendente como ele nos mostra que a mente humana é confusa e sensível, nos levando a questionar o que é ético, o que é certo e errado, e o mais importante: até onde nós iriamos para sobreviver? O quanto vale uma vida?

"-(...)O que eu quero dizer é que, mesmo um cara comum como eu pode às vezes achar tudo vazio de sentido. Por que eu me levanto todas as manhãs e me alimento? Tudo virará fezes no final das contas. Por que eu vou à escola estudar? Mesmo se acontecer de eu ser bem-sucedido, vou morrer de qualquer jeito. Você usa roupas bonitas, as pessoas te respeitam, você ganha uma boa grana, mas para que? É tudo sem sentido. Logicamente, esse tipo de ausência de significado deve ser apropriado à nossa naçãozinha de merda. Mas... mas veja só, nós ainda temos opções como alegria e felicidade, certo? Talvez em volume não muito expressivo. Mas não são elas que preenchem nosso vazio?"

     Sobre a edição que li, ela é da globolivros, e é muito boa! A capa é firme e bonita, tem uns enfeites em alto relevo, e quando abrimos a orelha encontramos um mapa da ilha onde o programa aconteceu (imagino que seja o mesmo mapa que foi entregue aos estudantes) com as coordenadas especificando os quadrantes para não nos perdermos na localização dos personagens durante a leitura.



     Talvez, a única reclamação que eu tenha do livro é em relação aos nomes dos personagens hahaha Como já se sabe, é um livro japonês, então os nomes são japoneses, e porra, é muito nome! E muitos deles são quase iguais!!!! Vários se diferenciavam pela mudança ou troca de apenas uma letra, ou seja, foi foda, diversas vezes tive que voltar páginas e mais páginas para relembrar quem era fulano de tal por causa disso hahahah

     Se eu usasse aquela relação de 1 a 5 estrelinhas para classificar o livro, eu com certeza colocaria 20, ou 30, ou até 50 estrelas. Ou seja, isso quer dizer: leia esse livro! Imediatamente!!!



Ps.: me perdoe pela má qualidade das fotos, é que não sei onde guardei o carregador da câmera e a preguiça de ir procurar tá demais.


32 Comentários

  1. Adorei a resenha, não conhecia o livro mas fiquei bem curiosa, obrigada por me visitar lá no blog, já estou seguindo. Beijos.

    Visite: http://carpediemmica.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. O livro é muito bom, espero que te interesse e leia! Obrigada pela visita e por me seguir também. :)

      Excluir
  2. Gosto muito desse livro, mas o grande número de personagens me deixou bem perdida. Essa edição da Globo parece ser muito linda, pena que li em e-book. :/

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pois é, como se não bastasse eles terem nomes esquisitos, ainda são muitos hahaha
      Ainda não tenho essa habilidade para ler e-books, mas estou começando a me forçar a tê-la, rs
      Abraço!

      Excluir
  3. Ooi. Amei o seu texto sobre esse livro. Nunca o li mas vi algumas resenhas que foram mais ou menos como você citou e isso acabava sempre me deixando um pouco menos curiosa. Não acredito que ele seja nem perto de gore, mesmo que eu tenha visto a adaptação e tenha achado um pouco gore demais hahaha
    Beijos
    SIL ~ Estilhaçando Livros

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pois é, acho que pra ser gore ele precisa se esforçar um pouco mais ainda hahah
      Pretendo assistir o filme em breve, mas te falar que depois que li umas opiniões dele eu desanimei um pouco, vou acabar assistindo só pra matar a curiosidade mesmo.
      Obrigada pela visita! :)

      Excluir
  4. Esse é um livro que eu tenho bastante vontade de ler, já vi comentários positivos e negativos sobre mas quero ter minha própria experiência sabe?! Enfim, ótimas as suas ponderações e a respeito do nome dos personagens acho que todo mundo reclama e dá um trava língua danado, hahaha.

    ✩ Voando Sem Peter ✩

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Em relação a leitura tem que ser assim mesmo, pois gostos são muito individuais e geralmente divergentes, então a gente só vai saber se gosta mesmo de algo depois de ler.
      E sobre os nomes: pois é hahah eu assisti ontem o filme e percebi que mudaram o nome de diversos personagens, acredito que com a intenção de facilitar na hora de lembrar deles, rs
      Obrigada pela visita! :)

      Excluir
  5. Juro que achava que esse fosse um livro de espionagem. Acredito que por causa do título, que eu associo a Cassino Royale, do James Bond. Gosto de enredos sangrentos, deve ser ótimo. Seguindo o blog.

    http://porquelivronuncaenguica.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. hahahah verdade, eu não havia visto por esse lado do nome, acho que porque eu meio que já conhecia a estória pois haviam me recomendado, rs
      Obrigada, vou retribuir. :)

      Excluir
    2. Acabei de ver que já te sigo, hahahaha

      Excluir
  6. Eu comecei a ler esse livro no kobo, mas não rendeu e desisti. Agora, estou esperando um amigo meu me emprestar.
    Adorei sua resenha! Está muito boa mesmo.
    Sabia que tem a adaptação desse livro?
    Beijos
    Balaio de Babados

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. A dica que eu tenho é que esse é aquele tipo de livro pra ler de um fôlego só, sabe? Acho que se tentar intercalar com outras leituras, ou dar uma pausa muito longa, tu acaba perdendo o ânimo mesmo, pois a estória corre rápido, é pressão o tempo todo.
      Poxa, muito obrigada! :)
      Sei sim, assisti ela ontem, aliás hahaha Mudaram muita coisa legal, foi uma adaptação realmente ruim, uma pena.
      Obrigada pela visita!

      Excluir
  7. Olá!
    Acho que vocês se confundiram de blog, mas obrigada assim mesmo, desejo o dobro a vocês. :)
    Abraço.

    ResponderExcluir
  8. Oie,
    não conhecia o livro, mas acho que não momento não leria não.

    bjos
    http://blog.vanessasueroz.com.br

    ResponderExcluir
  9. Já ouvi falar desse livro, e não li boas críticas sobre... entretanto, pretendo ler.
    Beijinhos.

    intoxicadosporlivros.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
  10. Já ouvi falar desse livro, e não li boas críticas sobre... entretanto, pretendo ler.
    Beijinhos.

    intoxicadosporlivros.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Poxa, sério? Eu gostei demais, entrou para os meus favoritos!
      Obrigada pela visita, beijos :)

      Excluir
  11. Já vi algumas pessoas falando mal desse livro :/ mas ele é tão lindo, MORRO DE VONTADE DE LER (mas tá sempre salgadinho o preço dele HAHA)

    Beijos!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pois é, tudo questão de gosto mesmo hahaha Tem uns que muita gente diz fantástico e eu também não consigo ver graça nenhuma, rs
      Ele realmente não é muito barato não, até mesmo pelo tamanho e pela qualidade, mas eu comprei por 20 reais na estante virtual, recomendo!
      Volte sempre. :)

      Excluir
  12. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  13. É um dos livros que está na minha lista de desejados da Amazon, só esperando uma chance para ser comprado e lido. Em algumas das críticas que li, notei que as pessoas assemelhavam esse livro com Jogos Vorazes, o que eu acho ter sido o motivo pra eu ter adiado a compra por tanto tempo. Sim, odeio, detesto, desprezo Jogos Vorazes.
    Após ler sua resenha, notei que não tem nada a ver com a trilogia queridinha dos adolescentes, pois parece ser bem mais intenso e muito mais "punk", se assim eu puder classificar.
    Bom, gostei da sua resenha, bem sincera e objetiva, do jeito que eu admiro.

    Um forte abraço!
    www.bravuraliterariablog.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Até acho que Jogos Vorazes deve ter tido sim uma inspiração em Battle Royale, mas com certeza ele é muito mais leve e fantasioso. Até curto a trilogia, mas em três livros não conseguiram fazer comigo o que BR em um só fez, hahaha
      Jogos Vorazes eu recomendo para adolescentes, já Battle Royale apenas para adultos de estômago e emocional forte, senão desaba que nem eu desabei.
      Poxa, muito obrigada! Fico muito feliz pelo meu texto ter te agradado, de verdade. :)
      Obrigada pela sua visita!
      Abraço.

      Excluir
  14. Eu acho BR um milhão de vezes muito melhor que JV, levando em conta o fato de eu ter visto os filmes, e não li os livros... mas morro de vontade de ler Battle, deve ser realmente angustiante... tem o mangá tbm, mas nunca consegui colecionar... embora o desejo ainda continue em mim kkkkkkkkkk

    uma das minhas personagens preferidas é que menstrua... xD
    enfim, tem cada morte que pootamerda... e como vc falou, tudo de forma muita crua, sem espaço pra algo fantasioso...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Não posso negar que Battle Royale dá de mil a zero em Jogos Vorazes, isso é indiscutível! hahahaha
      Quando tu ler o livro vai perceber que o filme é uma bosta se for colocar na comparação. Eles mudaram muita coisa que eu achei essencial, isso sem falar que ele é super curto e não passa nem metade das sensações que o livro passa, e não preciso nem comentar que os atores deixaram demais a desejar, em alguns momento acho que até eu atuaria melhor kkkk
      Como eu disse, o ano mal começou mas esse já é um dos meus livros favoritos de 2016, gosto muito de distopias realistas.

      Excluir
  15. Olá Tisa.
    u preciso ler esse livro logo, já não aguento mais. Já assisti ao filme, li o mangá só falta essa Novel que deu origem aos outros dois, acho essa contagem o maior trunfo desse livro, afinal um não vai passar desse capítulo, quem será? Dá um suspense danado de bom.
    Espero poder ler em breve.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olha, eu concordo muito contigo. A contagem fez realmente toda diferença. Às vezes eu estava eufórica de curiosidade e ficava pegando spoilers pela contagem, já que era só passar as páginas e olhar o número, e se ele tivesse diminuído quer dizer que alguém iria morrer haha
      Eu ainda não li o mangá, mas me disseram que é bem legal também e que não se compara com o filme (que é uma bosta), um dia lerei também. :)

      Excluir
  16. Oooie Tisa!
    Eu comecei a ler o mangá do Batlle Royale, já leu?
    Me parece semelhante ao mangá pel o que você escreveu.
    Sua resenha ficou muito boa adorei!
    Eu estou assim: preciiiiisooo ler esse livroo.

    E essa coleção do King na foto hein?
    Essa tontura que você disse que sentiu, eu senti lendo um conto do King, do livro "As Quatro Estações", não lembro o nome do conto, só sei que era o segundo (o do velho nazista). Eu passei muit mal e tive que parar de ler e descansar (por um ou dois dias, não lembro), pra depois continuar.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Não li não, mas pelo o que eu vi, o livro é uma adaptação do mangá. Leia simm! Eu curti muito.
      Poxa, eu tô doida pra ler esse livro! Curto muito Stephen King, é um dos meus escritores favoritos hahah Dizem ter uns contos fantásticos em As Quatro Estações mesmo.

      Excluir
    2. Leia e me fale o que achou! O primeiro conto desse livro deu origem aquele filme "Um Sonho de Liberdade" já assistiu? Sensacionaaaal!

      Excluir
    3. Acho que não sou uma pessoa que nasceu para mangás :( hahaha Eu tenho aqui toda a coleção de Hellsing, pois eu era muiiiito fã do anime quando criança, e ate hoje ainda não tomei a vergonha na cara de ler :(
      Mas, sobre o livro: eu lerei com certeza! Parece que só os contos desse livro renderam dois filmes, se não me engano, só não sei quais são, rs.

      Excluir

Deixe o link do seu blog para que eu dê uma olhada, e obrigada pela visita! :)